28 março, 2011

Biografias

“Todas as histórias de vida são fascinantes. As pessoas nascem sob condições muito definidas e respondem a elas de múltiplas maneiras. Moldam-se em personagens sempre inéditas.
Se achamos nossa vida vazia e desinteressante, certamente nunca viajamos através da memória, buscando o nosso próprio percurso, nem nos empenhamos em contar uma história a nosso respeito.
Não falo de apanhar aqui e ali episódios vividos e relatá-los. Falo de narrar nossa existência com o objetivo de procurar, nela, aquele fio, escondido e insuspeito, que liga nossas vivência e lhes fornece sentido.
A partir do nosso nascimento, nossa história se estende para frente (até nossa morte) e para trás, antes mesmo de virmos ao mundo. Ela se apropria da história dos nossos antepassados, das heranças que nos deixaram (sonhos, valores, experiências, situação financeira e social...) e dos eventos da época em que nascemos.
A partir de então, vai se desdobrando, numa espécie de parceria com todos aqueles com quem convivemos, aqueles dos quais nos afastamos, com quem brigamos, os que esquecemos, os que admiramos...
Todos são cúmplices de nossos sucessos e fracassos, de nossos medos e idiossincrasias, de nossos valores e objetivos...
Mas ordenar todos os elementos que constituem nossas vidas é um trabalho lento e difícil. A narrativa de nossa história precisa de mais do que uma única versão.
Em geral, a primeira narrativa cumpre funções de sustentar a idéia que queremos ter de nós mesmo e de defender a personagem que acreditamos que somos em todas as ocasiões (vencedor, mártir, herói, vítima, perdedor, incompreendido...)
Grosso modo, a primeira história é sempre a versão conveniente para nós, montada inconscientemente por nós mesmo para justificar nossos atos e palavras. Ela é o relato do ator, que, de tão entrelaçado na trama de suas vivências, não pode olhar o panorama nem se ver de fato...
É muito difícil sermos atores, e, também, expectadores de nós mesmos. Como atores, agimos e sofremos, mas como expectadores, podemos nos ver, julgar e compreender as razões de nossos gestos e palavras.
Sermos expectadores e narradores de nós mesmos é o caminho único para conseguirmos dar um passo além em nossa existência: tornarmo-nos autores de nossa história.
Como autores, o que conquistamos é a chance de não mais nos deixarmos arrastar pelas contingências da vida. “Assim, nossa vida começa a ser propriamente, uma história.”

                     Dulce Critelli, terapeuta existencial e professora de filosofia da PUC-SP

24 março, 2011

O adoecer nas relações e a psicossomática contemporânea

Um fator preponderante nos relacionamentos é a comunicação, porque é através do processo de interação entre as pessoas que o sujeito se movimenta, amplia suas expressões emocionais e pode comunicá-las. Alguns sentimentos, tais como: a raiva, o medo, a tristeza muitas vezes paralisam impedindo a comunicação. A pessoa não consegue expressá-los verbalmente, nem mesmo através de manifestação, como por exemplo, o choro. Ao reprimir o sentimento de tristeza que está relacionado ao choro, a pessoa acaba desenvolvendo tensões musculares. O choro muitas vezes aparece com a conotação de fraqueza e falta de controle. Quantas vezes já escutamos a frase, homem que é homem não chora.
 Toda manifestação corporal está associada às emoções e sentimentos. Desde muito cedo, em nossa vida, vamos internalizando a maneira como recebemos o amor, estabelecemos vínculos e desenvolvemos nossa autonomia. Estar em conexão com as sensações corporais nos permite perceber os nossos limites como também as nossas possibilidades, ampliando os horizontes para uma vida mais saudável.
A psicossomática contemporânea rompe com visão segmentada, compartimenta de ser.  Com esta nova visão tratamos a doença como fazendo parte do ciclo vital de todos. Todos nós passamos por crises na vida, e, muitas vezes nos sentimos fracos achando que não há solução para os nossos problemas e evitamos falar. Quando nós sentimos, pensamos e agimos desta forma impedimos as possíveis elaborações das crises erigindo barreiras aos sentimentos e muitas vezes adoecemos.
Nestes momentos de crise é necessário falar, olhar para si e buscar responder a determinadas perguntas: O que me determina como pessoa? O que me faz feliz? Como eu posso mudar e transformar tudo aquilo que já não faz mais sentido para a minha vida?
Ao adoecermos nosso corpo e mente está nos dando uma dica de que devemos parar e rever os nossos padrões de comportamento, as nossas atitudes, a maneira como nos relacionamos. O sintoma é um importante aliado porque nos dá a chance de rever aquilo que já não suportamos mais abrindo um novo caminho para mudança.

14 março, 2011

Psicoterapia corporal reichiana


Desde o nascimento estamos constantemente nos relacionando, primeiramente com os nossos pais que influenciarão nossos relacionamentos futuros.
Ao longo da vida o individuo adquire um “jeito” de estar e lidar no mundo de forma repetitiva desenvolvendo padrões e modos característicos de atitudes e comportamentos frente a diferentes situações. A esta maneira de ser, Wilhelm Reich denominou de caráter, que nada tem a ver com a conotação usualmente relacionada ao termo no senso comum.
Nesta concepção, caráter é entendido como decorrente da história de vida do indivíduo, história do ponto de vista do seu desenvolvimento emocional, sendo o resultado dos modos como o indivíduo “resolveu” seus principais conflitos psíquicos.
Entretanto, os conteúdos emocionais não são expressos apenas pela expressão verbal, mas também pelo nosso corpo, o modo como falamos, o nosso tom de voz, postura corporal, ritmo respiratório são construídos ao longo da vida, nas relações que são afetivamente significativas: pais, irmãos, familiares.
A esta forma do corpo se mostrar nas relações Reich denominou couraça. Ele percebeu que as pessoas não só transmitiam suas emoções pela fala, mas também pelo corpo, com diferente localização das tensões corporais.
Tanto o caráter como a couraça se manifestam e se influenciam mutuamente e são conhecidos como mecanismos de defesa que o individuo se utiliza para se proteger de sentimentos que o fazem sofrer.
A psicoterapia corporal possibilita o individuo perceber o seu contexto presente associado a sua história pessoal para que ele possa compreender e elaborar como se coloca nas relações amorosas, familiares e de trabalho.
Muitas vezes não vemos saída para certas relações que nos fazem sofrer e tentamos mudar o outro porque lidamos com o ideal de pessoa que construímos. Com isto, há um dispêndio de energia, uma rigidez mental e corporal.
Por outro lado, existem também aquelas pessoas com um grau de dependência tão grande que impede o nível de diferenciação, ela vive a vida do Outro e conseqüentemente perde sua liberdade de ação, a sua autonomia.
A importância da psicoterapia corporal é ajudar a pessoa a perceber seus sentimentos, emoções e como estes afetam suas relações. Como também, perceber que as tensões musculares crônicas contêm emoções e conteúdos inconscientes. Ao explorarmos estas tensões conseguimos deixar aflorar as reações emocionais contidas, possibilitando um entendimento da contensão energética que muitas vezes nos paralisam e nos fazem adoecer.
Através de um intenso processo de autoconhecimento e observação, a percepção de si provoca transformações e a pessoa coloca a energia naquilo que realmente deseja para sua vida.

Indicação de livro sobre depressão

Acabo de ler, O Tempo e o Cão- a atualidade das depressões (Boitempo,2009) da psicanalista Maria Rita Khel. Esta autora nos traz uma nova hipótese com relação a depressão, vista não apenas como um sintoma clínico, mas como um sintoma social contemporâneo.
Neste sentido, a depressão é entendida como expressão do mal-estar que ameaça nossa adaptação a cobrança deste século, tais como: a velocidade, a euforia, a saúde, ao exibicionismo, ao sucesso, dentre tantas outras.
“A depressão”, diz Maria Rita, “é sintoma social porque desfaz, lenta e silenciosamente, a teia de sentidos e de crenças que sustenta a vida social desta primeira década do século XXI. Por isso mesmo, os depressivos, além de se sentirem na contramão do seu tempo, vêem sua solidão agravar-se em função do desprestígio social da sua tristeza.”
A depressão, atualmente, é sentida como exclusão, todos tendem a se afastar da pessoa com depressão como se fosse uma moléstia contagiosa.
No mundo contemporâneo não existe lugar para aquele que não está bem com sua vida, não tem o corpo perfeito, não consegue mais produzir como antes. Estas são cobranças que calam o depressivo.
Quem já fez tratamento com antidepressivo sabe que tratar uma depressão não é o mesmo que tratar um resfriado. Não adianta só tomar remédio, é preciso expressar a dor e o sofrimento, conseguir energia para mudar a si mesmo e sua vida.
O livro, desta excelente psicanalista, é complexo e nos mostra a dificuldade para a pessoa com depressão se inserir no tempo, na velocidade exigida nos dias de hoje.
Vale à pena ler!

09 março, 2011

NUTRIÇÃO E SUPORTE PSICOLÓGICO

O comportamento alimentar consiste no tipo de alimento que cada pessoa ingere e no modo como o faz, enquanto a nutrição tem relação com uma alimentação saudável e equilibrada. O comportamento alimentar deveria estar relacionado com os mecanismos de fome e saciedade, ou seja, a pessoa alimentar-se-ia somente quando tivesse fome. Porém, isso nem sempre ocorre, e na verdade existe uma série de fatores emocionais, como a ansiedade, o estresse, os estados de humor depressivos, entre outros. Um fator importante é o estado de carência afetiva, aumento de peso com o ganho secundário de atenção, que irão influenciar negativamente o comportamento alimentar do indivíduo.
Por vezes, a comida assume o papel de redução de ansiedade, em que a pessoa come mesmo que não tenha fome, como forma de aliviar esse estado emocional, obtendo assim uma fonte de prazer temporária. Se a ansiedade não for tratada, a pessoa vai continuar a utilizar esse mecanismo para obter uma satisfação imediata. Torna-se um ciclo vicioso, pois, por um lado, a pessoa quer ter uma alimentação saudável, por outro, é confrontada com esses acessos de gula.
Assim podemos dizer que é a razão de fatores psicológicos que muitas pessoas tentam seguir uma dieta, mas depois não conseguem cumpri-la durante muito tempo. Com a orientação nutricional, a pessoa sabe exatamente aquilo que deve ou não fazer, mas se sente incapaz de mantê-lo, e sente que "algo mais forte" a impede de prosseguir.
Muitas vezes assiste-se a um sucesso rápido, em que inicialmente a pessoa consegue perder peso, mas, com o passar do tempo, é freqüente que essa situação se inverta e a pessoa volte ao seu peso inicial ou ainda maior. Após sucessivas tentativas, há uma tendência a desistir, e a pessoa deixa de acreditar que algum dia conseguirá emagrecer.
Manter um peso saudável não pode ser encarado como um esforço ou um sacrifício enorme para toda a vida. Logo, se durante o tratamento nutricional e de reeducação alimentar, a pessoa tiver acompanhamento psicológico, as possibilidades de sucesso aumentam muito. Isto porque, no acompanhamento psicológico, são tratados diversos aspectos emocionais e comportamentais que atuam diretamente na relação que a pessoa desde sempre se habituou a estabelecer com a comida. O objetivo passa por permitir a alteração de comportamentos que conduzam a uma melhor qualidade de vida, que é essencial não só na perda de peso, como na sua manutenção ao longo da vida. O tratamento nutricional deve vir junto com o psicológico. A nutrição ensina, a saber, comer e a psicologia ensina, a saber, estar bem com a comida e consigo mesmo.”
Além disso, a psicologia ajuda a melhorar a auto-estima e a pessoa começa a perceber o que se passa com ela, quais os pensamentos e sentimentos na hora em que se alimenta. Isto ajuda a mudar os hábitos daninhos a saúde.
Revista Psique, grifo meu



Revista Ciência &Vida Psique N°30 “Obesidade: Transtornos Alimentares em Alta e Poucos Recursos Terapêuticos”


04 março, 2011

A atividade física é uma aliada da saúde mental

Por que é importante a atividade física em nossas vidas? Como a atividade física pode influenciar a saúde mental? Em nossa cultura há um envolvimento enorme com a busca do corpo perfeito, este comportamento surge no final do século passado com o prolongamento da vida. Nossa população está envelhecendo e com isto busca-se uma qualidade de vida melhor evitando a vida sedentária.
Inicialmente as pessoas faziam atividade física, como a musculação, por exemplo, para ficarem mais fortes ou moldarem seus corpos. Com o passar do tempo, nossa cultura com relação à saúde mudou, passando-se a movimentar o corpo para evitar doenças crônicas muitas vezes acarretadas por complicações cardio-vasculares, derrames, diabetes tipo dois, obesidade, hipertensão, dentre outras.
No aspecto mental, os exercícios físicos ajudam a quebrar o isolamento social, quando feitos em grupo, melhoram a auto-estima, a auto-imagem, o bem-estar, e aliviam o stress (a taxa de suicídio é duas vezes maior em pessoas sedentárias).
Em termos fisiológicos, contribuem para o controle de peso, do colesterol e do triglicérides, para diminuição da pressão arterial e para melhora da resistência, força muscular e mobilidade das articulações. Com isto, a autonomia e qualidade de vida dos indivíduos se prolongam por mais tempo.
Um aspecto que atualmente nos chama a atenção é a obesidade. Manter um peso saudável não deve ser encarado como um esforço ou um enorme sacrifício. Neste aspecto a importância do trabalho de equipe, tratamento nutricional com reeducação alimentar, exercícios físicos, e acompanhamento psicológico, são importantes. Nesses casos a psicologia é fundamental para auxiliar as pessoas que tentam seguir uma dieta e fazer atividades físicas.
Outros fatores que podem influenciar os cuidados com a saúde são: a falta de consciência corporal, a ansiedade e a depressão. A depressão, por exemplo, é uma doença que acomete muitas pessoas em diferentes fases da vida e que pode ter uma sensível melhora quando os exercícios físicos acompanham o atendimento psicocorporal.
Nos trabalhos de psicoterapia corporal são usadas técnicas de relaxamento, respiração e consciência corporal que atuam não só no corpo físico, como também, na mente e na energia que percorre todo o corpo, proporcionando ao individuo o autoconhecimento e conseqüentemente gerando bem estar para que ele possa lidar com as adversidades da vida. Desta forma, o individuo entra em contato consigo abrindo novas possibilidades.
Estes trabalhos corporais, quando bem conduzidos, em grupo ou individualmente, melhoram a qualidade de vida das pessoas e sua saúde de maneira geral.
Mente e corpo compõem uma só unidade, não existe razão que não venha acompanhada pela emoção e vice-versa. As tensões corporais são um retrato de como uma pessoa lida com sua vida. Por exemplo, quando uma pessoa está com raiva ou com medo ela pode travar o maxilar, parar de respirar acarretando dores de cabeça que podem se tornar crônicas.
Finalmente, conhecer o corpo e suas emoções abre um mundo de possibilidades para que a pessoa viva uma vida mais plena e feliz.