19 abril, 2011

Respiração e vitalidade

A função respiratória faz parte da história de vida do ser humano e de sua troca com o mundo. Ao longo do desenvolvimento a respiração é vivenciada corporalmente e emocionalmente a partir da integração das dimensões biológica, cultural e pessoal do individuo.
Wilhelm Reich, por volta de 1935, percebeu pela primeira vez que as perturbações respiratórias se manifestavam de diversas formas em seus pacientes. Eram posturas deliberadamente cultivadas em algumas formas de treinos militares, onde se mantém o peito elevado e o abdômen encolhido restringindo a expiração. Desta maneira, estes indivíduos permaneciam no controle de suas emoções.
 A partir deste momento, Reich percebeu que a contenção respiratória fazia parte dos mecanismos de defesa do paciente. Sua linha de pesquisa, então, passou a focar a atenção não apenas no conteúdo de seu discurso, mas como estes se expressavam corporalmente, a forma de olhar, a postura, as atitudes, o gestual e expressões faciais.
Este autor desenvolveu diferentes métodos para intervir ativamente sobre o corpo do paciente por meio de massagem, da proposição de amplos movimentos respiratórios, diversos movimentos oculares, dentre outros.
Ao intervir diretamente no corpo, Reich descobriu que a dissolução de espasmos musculares crônicos, assim como, a flexibilização da atitude de contenção respiratória gerava ab-reações emocionais espontâneas, respostas vegetativas e o afloramento de memórias reprimidas.
Segundo Boadella (1985), ao se observar crianças e animais saudáveis respirando é possível verificarmos que a respiração natural envolve mobilidade total no peito e abdômen num movimento ondulante de todo o tronco.
A respiração também está relacionada ao toque, ao contato da pele, por isto a massagem reichiana deve ser utilizada para liberar a contenção muscular permitindo a pessoa expressar suas emoções facilitando desta maneira a movimentação da energia vital.
De acordo com Montagu (1986), o que pode demonstrar a importância da respiração é que existe uma alta incidência de asma em pessoas que, no início de sua infância, foram privadas pela separação do convívio com sua mãe, do contato corporal. Para este autor por os braços em torno de um asmático pode interromper a crise de asma.
Margaret Ribble nos diz da importância da experiência tátil para a respiração logo no início da vida:

A respiração, que é caracteristicamente superficial, instável e inadequada nas primeiras semanas de vida após o parto, é definitivamente estimulada de modo reflexo pela sucção e pelo contato físico com a mãe. Os bebês que não são suficientemente carregados no colo, e em particular se foram bebê de mamadeira, além de perturbações da respiração ainda desenvolvem distúrbios gastrointestinais com grande freqüência. Tornam-se engolidores de ar e sofrem do que popularmente se chamam cólicas [...] Deste modo, o toque da mãe tem uma definitiva implicação biológica para a regularização da respiração e da função nutritiva da criança. (RIBBLE abud MONTAGU, 1986, p.115)


 Durante a respiração o corpo mantém um suprimento energético adequado. A atividade psicomotora - trabalho, habilidade para as reações emocionais e atividade sexual- é uma maneira de liberar energia por parte do indivíduo. A fadiga física e mental, falta de sono ou excessiva atividade sexual esvaziam as reservas energéticas do organismo. Isto ocorre porque a energia vital deriva de reações de oxidação, cujo passo final é o acoplamento de elétrons de oxigênio, o que denota a importância do oxigênio no processo vital demonstrando a relação direta da função respiratória com a energia e os estados emocionais.
O motivo mais importante para uma respiração reduzida é a necessidade de eliminar tanto sensações corporais como emocionais desagradáveis. Entretanto, quando o indivíduo respira desta forma está também reduzindo sua energia vital podendo vir a adoecer.
Na terapia reichiana a respiração é um dos aspectos para o diagnóstico e tratamento das doenças ditas contemporâneas como: depressão, ansiedade, pânico e fobias.
Precisamos voltar o nosso olhar para o corpo como possibilidade de expressão e saúde. A vida é movimento, contato, respiração, energia e flexibilização.

Bibliografia:
BODELLA, David – Nos caminhos de reich, São Paulo. Summus, 1985
MONTAGU, Asheley – Tocar : O significado da pele, São Paulo: Summus, 1986  
Rosângela F. Adaime







Nenhum comentário:

Postar um comentário