A partir do contato...
O homem é um ser social. Vive em grupo, faz parte de uma sociedade, se relacionando com os membros que dela fazem parte. Não há como vivermos sem nos relacionarmos. A menos que optemos por seguir o caminho do ermitão, partindo em direção a uma caverna, teremos que nos relacionar com o outro, seja esse outro nossa família, um amigo, um parceiro afetivo.
Entretanto, muitas vezes nos deparamos com dificuldades ao longo do caminho e podemos nos sentir incapazes de nos relacionar. Seguimos acreditando que é melhor viver sozinho, que precisar de alguém não é lá muito bom e que sentir a falta de outra pessoa é a pior coisa do mundo. Porém, em nosso íntimo, sabemos que não é bem assim. Sabemos que temos necessidade do outro. Necessidade de contato. Contato que começa consigo mesmo e que se estende em direção ao outro. Contato físico e emocional. Contato. Um abraço, um aperto de mão, olho no olho, corações que pulsam e dizem de si para o outro, que também bate forte, indicando que, enquanto há vida, há possibilidade de mudança e transformação.
A partir de um contato verdadeiro, podemos nos encher de força, arregaçar as mangas e finalmente agir, transformando aquilo que for preciso. Como por exemplo, nossos relacionamentos. Fazer contato é se permitir parar para escutar a voz interior. É se permitir parar para sentir. Quando paramos, temos a chance de fazer perguntas e ouvir respostas. “Do que sinto falta?”, “o que me faz feliz?”, “qual é o meu desejo”, ”como escolho os meus parceiros?”. A partir do contato com nosso coração, podemos perceber, por exemplo, que nossas escolhas afetivas são repetições, ou seja, mudamos o ator, mas a história é a mesma. Quando essa consciência de si acontece, uma porta se abre para uma transformação verdadeira e escolhas verdadeiramente novas (e mais condizentes com nosso ser) são possíveis. Nos damos conta de que podemos – e devemos - nos relacionar com mais qualidade.
É verdadeiramente possível vivermos relacionamentos bons, relações afetivas onde haja troca, cumplicidade, amizade e respeito pelo outro. Onde ambos se sintam alimentados e amados enquanto pessoas singulares. Onde haja comunicação. Ser capaz de comunicar ao parceiro o que te desagrada, te faz bem, te irrita, te aflige... Ser capaz de falar dos teus sentimentos. Mas para poder comunicar ao outro o que se passa dentro de você, é preciso fazer contato. É aí que tudo tem início.
A psicoterapia corporal trabalha favorecendo o contato do indivíduo com suas emoções e sentimentos e como estes afetam suas relações. Além do trabalho verbal, essa abordagem faz do corpo um aliado do processo terapêutico, ao considerar que o mesmo traz registrada nossa história de vida. Tudo o que vivemos, desde o nosso nascimento, está escrito no corpo. Nosso corpo tem uma memória que pode ser acessada através do contato com tensões musculares, sensações, posturas. Na terapia corporal o corpo fala e revela, do mesmo modo que a expressão verbal do indivíduo também o faz. O terapeuta trabalha ouvindo o discurso e o corpo daquele que está ali, e se coloca como um parceiro no processo de autoconhecimento do cliente, fundamental para a conquista de relações felizes e plenas!
Texto publicado no Jornal Bhrana (R.J.) feito em parceria com as psicólogas Cristine Pombo e Carla Fontes.